terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Flavonóides: Da planta para prevenir e combater doenças do homem

Flavonóide é o nome dado a um grande grupo de principios ativos naturais ou fitoquímicos ou fitonutrientes, que são polifenóis de baixo peso molecular encontrados em diversas plantas, como por exemplo na uva e açai. É encontrado em várias frutas e vegetais em geral, assim como em alimentos processados como chá e vinho e na própolis.
Os benefícios do consumo de frutas e outros vegetais é geralmente atribuído mais aos compostos flavonoídicos, do que aos outros conhecidos
nutrientes, devido ao vasto leque de efeitos biológicos que incluem entre outros: ação antiinflamatória, anti-alérgica e anti-câncer.
Tanto a
indústria como pesquisadores e consumidores têm demonstrado grande interesse nos compostos flavonoídicos pelo potencial de seu papel na prevenção do câncer e doenças cardiovasculares devido às suas propriedades antioxidantes.
Mais de cinco mil compostos flavonoídicos que ocorrem na
natureza foram descritos e classificados a partir de sua estrutura química. Subdividem-se nos grupos: flavanas, flavanonas, flavonóis, flavonas, isoflavonas, e antocianinas.
As isoflavonas são os flavonóides mais importantes encontrados em alguns vegetais, presentes principalmente na soja e em seus derivados, denominadas de fitoestrógenos por apresentarem semelhança estrutural com os hormônios estrogênicos, encontrados em maior concentração nas mulheres. As isoflavonas podem ocorrer em diversas formas moleculares: Malonil derivados e beta-glicosídeos, que ocorrem naturalmente nos grãos da soja e na farinha de soja, e os acetil derivados e as agliconas, que são formados durante o processamento industrial da soja ou no metabolismo da soja no organismo. O isolado protéico de soja possui maiores teores das formas agliconas. Para as mulheres que apresentam alta sensibilidade aos hormônios sintéticos durante a reposição hormonal, está indicado o uso de isoflavonas isoladas, ou na forma bruta, tal como encontrada nos produtos da soja. Estudos demonstram que as isoflavonas substituem os hormônios sintéticos estrogênicos quanto ao efeito, e ainda são desprovidas de efeitos colaterais, representando uma grande opção terapêutica no período da menopausa.
Hoje na terapêutica já é possível encontrar várias apresentações farmacêuticas a base de flavonóides com indicações curativas e preventivas, por exemplo, para melhorar a circulação sanguínea, impedir a formação de arterosclerose, proteger o fígado, etc.. e este fato demonstra que a cada dia que passa, os recursos naturais servem de base para a descoberta de novos medicamentos, e as pesquisas voltadas para esta área são promissoras na busca da resolução dos problemas de saúde que afligem o homem.

A Biodiversidade do Estado do Amapá

Biodiversidade ou diversidade biológica (grego bios, vida) é a diversidade da natureza viva. Desde 1986, o termo e conceito têm adquirido largo uso entre biólogos, ambientalistas, líderes políticos e cidadãos conscientizados no mundo todo. Este uso coincidiu com o aumento da preocupação com a extinção, observado nas últimas décadas do Século XX.
Refere-se à variedade de vida no planeta
Terra, incluindo a variedade genética dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da fauna, de fungos macroscópicos e de microrganismos, a variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; e a variedade de comunidades, habitat e ecossistemas formados pelos organismos.
A Biodiversidade refere-se tanto ao número (riqueza) de diferentes categorias biológicas quanto à abundância relativa (
equitatividade) dessas categorias. E inclui variabilidade ao nível local (alfa diversidade), complementariedade biológica entre habitat (beta diversidade) e variabilidade entre paisagens (gama diversidade). Abrange, assim, a totalidade dos recursos vivos, ou biológicos, e dos recursos genéticos, e seus componentes.
A espécie humana depende da Biodiversidade para a sua sobrevivência, e o Estado do Amapá, é considerado o estado de maior importância para a biodiversidade brasileira. Sendo assim, diversos estudos em termos de levantamento da biodiversidade amapaense já foram realizados, culminando na existência hoje do corredor da biodiversidade.
Baseado no fato da rica biodiversidade existente no estado, em 1997 foi criada a Lei Estadual nº 0388 de 10.12.97, que dispõe sobre os instrumentos de controle do acesso à biodiversidade do Estado do Amapá e dá outras providências. Esta Lei tem por objetivo “a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos”.
É necessário ressaltar que a Lei Estadual nº. 0388 de 10.12.1997 sofreu influência da Convenção da Diversidade Biológica – CDB, e foi inspirada no projeto de Lei sobre regulamentação ao Acesso ao Patrimônio Genético e Conhecimentos Tradicionais Associados da Senadora Marina Silva, na Lei nº. 1235/97, a primeira lei no cenário nacional, sobre o acesso à biodiversidade e nos casos investigados, ocorrido em 1997, envolvendo a ONG denominada Selva Viva e diversas comunidades indígenas do Alto Juruá, que ensejou à época, a edição pelo Poder Legislativo Estadual.
A Lei Estadual nº 0388/97 cria ordenamento jurídico para a proteção da diversidade biológica e genética e disciplina o acesso aos direitos intelectuais coletivos das comunidades tradicionais e indígenas do Amapá, como também estabelece mecanismos de controle e fiscalização do patrimônio natural do Amapá, proteção, conservação e a devida utilização sustentável, visando distribuição eqüitativa de benefícios com intuito de promover justiça social. Foi criada com a intenção de defender os recursos naturais do Amapá e os conhecimentos das sociedades tradicionais contra a biopirataria.
É bom saber que a Lei Estadual nº 0388/97 possui Princípios Legais que proíbem a alienação de direitos sobre a diversidade biológica e sobre todos os recursos genéticos existentes no Estado; protege a participação das comunidades locais e dos povos indígenas no acesso e nos benefícios sociais e econômicos decorrentes do uso dos recursos da biodiversidade; e prever a proteção e incentivo à diversidade cultural, valorizando os conhecimentos, inovações e práticas das comunidades locais.
Pode-se dizer que no Estado do Amapá há regras claras e concisas sobre a exploração e o uso da biodiversidade, portanto, é mais do que necessário observar todas as diretrizes que norteiam tais práticas, para que determinadas ações sejam realizadas de forma racional preservando principalmente, o direito das populações tradicionais que são elementos que constituem a sociobiodiversidade.

sábado, 1 de dezembro de 2007

A UNIFAP no final de 2007

Chegado o final de 2007, faz-se necessário a realização de um balanço sobre a única Instituição Federal de Ensino Superior do Estado do Amapá - UNIFAP. Desde 2006 a luta está sendo árdua para a concretização de projetos firmados pela atual administração ainda em campanha para a reitoria. É visível as mudanças já ocorridas no âmbito desta instituição. Foram mais de 50 eventos científicos realizados no período compreendido de julho de 2006 a novembro de 2007. Todos os encaminhamentos que envolvem mudanças, como por exemplo, o vestibular, a implantação do curso de medicina, o projeto de reestruturação e expansão, foram realizados com ampla discussão inclusive com a comunidade externa a universidade.
Perante o órgão mantenedor - MEC, a UNIFAP está em desenvolvimento copioso. As dificuldades são inúmeras, já que concorremos no mesmo patamar das outras IFES, em que a produção cientifica, e o número de discentes dos diversos níveis são marcantes como indicadores avaliativos, mas o comprometimento de docentes, que vislumbram uma universidade autêntica, que seus paradigmas se firmem no tripé ensino, pesquisa e extensão, assim podemos pensar em uma instituição voltada ao seu papel formador das mais diversas camadas sociais do estado.
Hoje no cotidiano da jovem UNIFAP, já encontramos exames de qualificação nos níveis de mestrado e doutorado, brevemente teremos defesas de dissertação e tese. Este fato nos mostra que apesar de jovem, mas a maturidade cientifica está sendo buscada na figura de alguns pesquisadores, que se dedicam aprovando recursos significativos para a estruturação da pesquisa e pós-graduação. Das universidades menores da região norte, hoje a UNIFAP é a instituição que mais aprova projetos de pesquisa nas agências de fomento, tais como CNPq, CAPES e FINEP, este fato mostra a mudança do quadro da UNIFAP em termos de pessoal qualificado.
A visão sobre a expansão da UNIFAP está baseada na necessidade da implantação do ensino superior nos diversos cantos do Estado do Amapá. A população amapaense é predominantemente jovem, que precisa ingressar no ensino superior. Quando se fala em ensino laico, paira a responsabilidade em resolver a questão do acesso ao ensino público. Nos planos futuros da UNIFAP há a implantação de cursos nos Municípios do Oiapoque, Laranjal do Jari e Amapá. Para que isso aconteça precisamos também do comprometimento dos representantes da sociedade amapaense em nível do parlamento.
É patente que só há investimento, se houver resultados. Resultados que sustentem a idéia de responsabilidade. A UNIFAP hoje constrói em todos os setores da sociedade, o compromisso responsável, nem que para isso precise enfrentar as mentes obscuras fisiológicas que imperam em determinados setores. Não há bem maior do que lutar por uma universidade forte e construtiva de ideais soberanos independentes de facções ultrapassadas mormentes em pensamentos fascistas.
Vejo que estamos no caminho certo, e sem dúvida no futuro analisaremos esta fase como positiva e marcante na vida dessa instituição.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Fitoterapia como medicina complementar

A palavra fitoterapia é originária do grego, que significa - Tratamento (therapeia) e vegetal (Phyton), ou ainda "A terapêutica aplicada às doenças através das plantas". A fitoterapia, apesar de ser erroneamente considerada por muitos como uma terapia alternativa, no Brasil ainda não é uma especialidade médica, e faz parte do arsenal terapêutico habitualmente utilizado, basta observar o grande registro de prescrição de medicamentos a base de extratos de plantas, tais como o Ginkgo biloba (TeoboninÒ), Piper metysticum (LaitanÒ), Passiflora alata (PassalixÒ), Valeriana officinalis (ValmaneÒ), etc...
Fitoterapia compreende também, o estudo das plantas medicinais e suas aplicações na cura das doenças. Surgiu independentemente na maioria dos povos. Na
China, surgiu por volta de 3000 a.C. quando o imperador Cho-Chin-Kei descreveu as propriedades do Ginseng e da Cânfora.
Há grande quantidade de plantas medicinais, em todas as partes do mundo, utilizadas há milhares de anos para o tratamento de doenças, através de mecanismos na maioria das vezes desconhecidos. O estudo desses mecanismos e o isolamento do
princípio ativo, denominado também de fitofármaco (a substância ou conjunto delas que é responsável pelos efeitos terapêuticos), da planta é uma das principais prioridades da farmacologia e da fitoquímica.
Enquanto o
princípio ativo não é conhecido, as plantas medicinais são utilizadas de forma não padronizada, principalmente através de chás, preparações alcoólicas, ou de forma industrializada, com extrato homogêneo da planta.
Ao contrário da crença popular, o uso de plantas medicinais não é isento de risco. Além do princípio ativo terapêutico, a mesma planta pode conter outras substâncias tóxicas, a grande quantidade de substâncias diferentes pode induzir a reação alérgica, pode haver contaminação por
agrotóxicos ou por metais pesados e promover interação com outras medicações, levando a danos à saúde e até predisposição a câncer, como acontece com plantas ricas em antraquinonas, que em altas doses provoca pseudomelanoma.
Além disso, todo princípio ativo terapêutico é benéfico dentro de um intervalo de segurança, baseado na sua concentração - abaixo dessa quantidade, é inócuo e acima disso passa a ser tóxico. A variação de concentração do princípio ativo em chás pode ser muito grande, tornando praticamente impossível atingir a faixa terapêutica com segurança em algumas plantas em que essa faixa é mais estreita. Na forma industrializada, o risco de contaminações pode ser reduzida através do controle de qualidade da matéria prima, mas mesmo assim a variação na concentração do princípio ativo em cápsulas pode variar até 100%.
À medida em que os
princípios ativos, são descobertos, os mesmos são isolados, refinados de modo a eliminar agentes tóxicos e contaminações e as doses terapêutica e tóxica são bem estabelecidas, de modo a determinar de forma precisa a faixa terapêutica e as interações desse fármaco com os demais.
No entanto, o isolamento e purificação de princípios ativos também não é isento de riscos. Primeiro porque pretende substituir o conhecimento popular tradicional e livre, testado há milênios, por resultados provindos de algumas pesquisas analítico-científicas que muitas vezes são antagônicas. Segundo, porque a simples idéia de extrair princípios ativos despreza os muitos outros elementos existentes na planta que, em estado natural, mantêm suas exatas proporções. Assim sendo, o uso de fitoterápicos de laboratório poderia introduzir novos
efeitos colaterais ou adversos inesperados, devidos à ausência de sinergia (sinergismo) ou antagonismo parcial entre mais de um princípio ativo que apenas seriam encontrados na planta. Portanto, o assunto fitoterapia é interessante de ser discutido, mas deve ser defendida a sua introdução no Sistema Único de Saúde, como terapêutica complementar, nos estados e municípios que ainda não foi.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O açaí como alimento funcional

O binômio dieta-saúde representa um novo paradigma no estudo dos alimentos. Neste contexto, surge a compreensão de que a alimentação adequada exerce um papel além do que fornecer energia e nutrientes essenciais, enfatizando também a importância dos constituintes não-nutrientes, que em associação, são identificados pela promoção de efeitos fisiológicos benéficos, podendo prevenir ou retardar doenças tais como as cardiovasculares, câncer, infecções intestinais, obesidade, dentre outras. Deste modo, os alimentos que contém estas propriedades são denominados alimentos funcionais, nutracêuticos (quando colocados numa forma farmacêutica), alimentos planejados e outros sinônimos correlatos. Entretanto, o termo que melhor se adequa à categoria de alimentos fisiologicamente ativos é alimentos funcionais, considerando que "cêutico" recorda medicamentos e "planejados" sugere artificial ou sintético.
O conceito de alimentos funcionais é amplo, e defende a suposição de que a dieta pode controlar e modular as variadas funções orgânicas, contribuindo para a manutenção da saúde e reduzindo o risco de acometimentos por morbidades. Atualmente, o efeito funcional de um alimento abrange não somente aqueles que, além do enfoque nutricional, exercem ações promotoras para o bom funcionamento do organismo, mas qualquer alimento ou ingredientes alimentares benéficos para o funcionamento orgânico.
A literatura referencia alguns critérios estabelecidos para determinação de um alimento funcional, tais como: exercer ação metabólica ou fisiológica que contribua
para a saúde física e para a diminuição de morbidades crônicas; integrar a alimentação usual; os efeitos positivos devem ser obtidos em quantidades não tóxicas, perdurando mesmo após suspensão de sua ingestão; e, por fim, os alimentos funcionais não são destinados ao tratamento ou cura das doenças.
O açaí, cujo nome científico é Euterpe oleracea, vem despertando muito interesse nos pesquisadores da área de alimentos funcionais de todo mundo, pois os frutos desta espécie vegetal é rico em compostos naturais que possuem atividade antioxidante, tais como antocianidinas e ácidos graxos omega-6. Estudo recente de um grupo de farmacologistas da Universidade Federal do Ceará, intitulado “Endothelium-dependent vasodilator effect of Euterpe oleracea Mart. (Açaí) extracts in mesenteric vascular bed of the rat”, publicado no periódico cientifico “Vascular Pharmacology” (v. 46, p. 97-104, 2007), demonstrou que o suco de açaí provoca vasodilatação dependente do endotélio, o que tanto se quer com os novos medicamentos vasodilatadores, mas questiona-se: Porque encontram-se tantos ribeirinhos com hipertensão arterial? Este fato pode ser explicado pelo alto consumo de alimentos associados ao açaí como peixe, camarão e caças salgados. O alto consumo de cloreto de sódio pode desencadear distúrbios arteriais levando a um estado hipertensivo.
Pelos efeitos benéficos do açaí, um grupo especializado no comércio de alimentos naturais, o SunOpta, irá distribuir a polpa de açaí orgânico para empresas alimentícias norte-americanas. Esta iniciativa acompanha a crescente popularidade do açaí, usado em bebidas e alimentos com a imagem de produtos saudáveis.
Espera-se uma receita bruta de 1 a 1,5 milhão de dólares no primeiro ano de venda, segundo opinião de Jeremy Kendall, presidente do grupo canadense.
O açaí é obtido do estado do Amazonas, e tem sua polpa rapidamente congelada para manter suas propriedades nutricionais. A fruta dessa região, contém uma concentração muito alta de antocianinas, proteínas, fibras e ácidos graxos omega-6 e omega-9.
A empresa alega manter benefícios para as famílias locais da região amazônica bem como ajudar na manutenção da biodiversidade da floresta amazônica.

Mais um novo medicamento para obesidade é introduzido na terapêutica

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que regulamenta a introdução de novos medicamentos no mercado farmacêutico no Brasil, aprovou, em maio de 2007, o medicamento rimonabant, para tratamento da obesidade e síndrome metabólica. O medicamento, cujo nome comercial é Acomplia®, já é vendido na Europa e Estados Unidos. Como age no combate à gordura abdominal, a substância ficou conhecida como "pílula antibarriga" e desperta ansiedade, nos que lutam contra a balança. O produto ainda não chegou ao mercado brasileiro.
Acomplia® é um medicamento que está disponível online e foi clinicamente comprovado eficiente em reduzir o peso. Acomplia® é a primeira droga que atua nos fatores que comandam o apetite, o metabolismo e o uso energético. Entretanto, faz-se necessário a manutenção de uma dieta saudável e exercícios ao mesmo tempo para que tenha efeito.
Além de combater a gordura, o remédio - que foi aprovado na Europa em junho do ano passado - terá como controlar outros fatores de risco associados à obesidade, como o mau colesterol (LDL) e triglicerídeos.
Rimonabant é o ingrediente ativo em Acomplia® que atua bloqueando os receptores específicos no cérebro. Os receptores CB1 são partes do sistema endocanabinóide. Este sistema regula o apetite e afeta assim o acúmulo e o equilíbrio de calorias, o metabolismo, a glicose, de lipídios e o peso corporal. Pacientes que querem usar Acomplia® terão resultado mais rápidos do que o normal.
A gordura abdominal, também conhecida como "barriga de chope", representa um risco à saúde. Na região da cintura, ela significa mais chances de doenças cardíacas. O fabricante do remédio, o laboratório Sanofi Aventis alerta que a substância está indicada apenas para pessoas obesas, com índice de massa corpórea (IMC) maior ou igual a 30, ou pacientes com sobrepeso (IMC maior do que 27) e fatores de risco associados, como diabetes tipo 2 e/ou dislipidemia.
Um estudo publicado no ano passado pela revista cientifica "The Lancet" mostrou que a dose diária de 20 mg do medicamento levou a resultados expressivos em termos da redução dos níveis de colesterol e triglicerídeos dos pacientes, que tiveram também reduzidos a circunferência do abdome e o peso corporal.
Apesar de todo o beneficio que este novo medicamento traz, mas deve-se ter cautela em relação ao uso. Está contra-indicado nas seguintes situações: quando há histórico de problemas renais, de problemas psiquiátricos sérios como depressão profunda, de problemas cardiovascular (infarto do miocárdio, derrames, etc.) em menos de 6 meses, está amamentando e está grávida. E o médico tem que observar se há um histórico condicional moderado renal, idade acima de 75 anos, o histórico de epilepsia, se está usando algum potente inibidor da CYP3A4 (Ex.: cetoconazol, itraconazol, ritonavir, telitromicina, claritromicina, nefazodona) e problemas hereditários de intolerância a galactose .
Nos ensaios de avaliação da eficácia e tolerância do Acomplia® foram observados os seguintes efeitos colaterais: Infecções (Infecção do aparelho respiratório superior, gastrite), alterações no humor, tontura e perda de memória, náusea, diarréia, vômitos, transpiração, desordens na pele, tendinite, espasmos musculares, fadiga, gripe, sintomas de pânico, ira, desordem emocional, letargia, soluços, e suores nortunos. Portanto, cuidado.

domingo, 27 de maio de 2007

A Medicina Abraça a Fitoterapia...

Texto de Kátia Stringueto, publicado na revista da Editora Abril Bons Fluidos

Já se fala hoje em fitomedicina, uma tendência para resgatar o conhecimento das plantas, herdado de nossas avós, e validá-lo com o olhar da ciência.
Vai chegar um tempo em que, na consulta, iremos discutir com tranqüilidade com o médico sobre a possibilidade de tomar ginseng e gingko biloba ou chá de espinheira-santa para atenuar diferentes males. E talvez saiamos do encontro com uma pomada de unha-de-gato com a mesma sensação de segurança de quando um medicamento alopático é prescrito para as inflamações tópicas. Pois observa-se um olhar mais respeitoso para a fitoterapia. Na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por exemplo, terá início em agosto a segunda turma de médicos com o propósito de estudar as virtudes das plantas. É uma parceria com a Sociedade Brasileira de Fitomedicina (Sobrafito). A primeira turma aconteceu em 2006 e reuniu 30 especialistas – clínicos gerais, ginecologistas, homeopatas, otorrinolaringologistas, cardiologistas, pediatras, pneumologistas e neurologistas. Todos convencidos de que essa é uma opção de tratamento que precisa ser resgatada e integrada ao que já fazem. Por que agora? O clínico geral João Bosco, professor adjunto da Faculdade de Medicina de Rio Preto, enumera três motivos: “As pessoas estão mais preocupadas com uma vida saudável e isso inclui a escolha por medicamentos menos agressivos. Os gastos com a produção de remédios sintéticos estão altos. E a indústria farmacêutica percebeu que comunidades como a de índios e caiçaras têm muito contato com a natureza e detêm um grande conhecimento sobre plantas”. Custa bem menos pesquisar quando há indícios de que a substância pode funcionar. Segundo o homeopata Luiz Sérgio Passos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Santos, “as plantas escolhidas aleatoriamente tem 0,013% de chance de se tornar um fitoterápico comercializável, e as selecionadas com base no conhecimento popular aumentam a chance para 4,8%, 380 vezes mais”.
Novo Manual
A mentalidade do médico brasileiro também está mudando, como registra o otorrinolaringologista Marcos Roberto Nogueira, de São Paulo. Ele integrou o primeiro curso de pós-graduação em fitomedicina Unifesp e está envolvido em um projeto que pretende aprontar, até o início de 2008, um manual de prescrição de fotomedicamentos. O livro terá a chancela da sidade e fornecerá informações sobre cerca de 80 plantas – além do princípio ativo, constarão o nome do remédio fitoterápico, a dose recomendada, os prováveis efeitos colaterais e os estudos clínicos comprovando a ação terapêutica. Será a garantia de que os especialistas precisam. Uma pesquisa recente perguntou aos médicos se eles prescreveriam fitomedicamentos e 80% deles responderam que sim desde que tivessem garantias. Talvez essa seja a maior diferença entre a fitoterapia, como a conhecemos, e a fitomedicina, como os médicos preferem chamar: o conhecimento empírico e o científico. Para substituir um remédio eficaz por um fitoterápico, é preciso a certeza de que esse último funciona. O lançamento de uma pomada à base de erva-baleeira ilustra a situação. “É um antiinflamatório mais eficaz que seu similar sintético e, em pouco tempo, se tornou um líder de vendas”, informa Nogueira. Para o consumidor, a questão ganha relevância quanto mais séria é a doença. “Se você tem má digestão, não importa se vai usar uma xícara ou meia de chá de camomila. Agora, se o problema for úlcera e o médico receitar espinheira-santa, precisará ter a segurança sobre uma dose eficaz”, diz Bosco. E compara: “Imagine um antibiótico fitoterápico. A dosagem deve ser obedecida com o mesmo rigor das substâncias alopáticas”.
Diálogo Aberto
O fitomedicamento pode ser mais barato, acessível e apresentar menos efeitos colaterais. Os estudos pretendem ainda afinar outra história: “A pessoa continuará a tomar seu chá, mas de forma mais respaldada”, acredita Nogueira. A fitoterapia moderna tenta recuperar o diálogo entre paciente e médico, incorporar saberes de cada cultura e disseminar o conhecimento adquirido para outras regiões. Bosco continua: “Investir na fitoterapia significa ainda ajudar o desenvolvimento da biodiversidade de diversos países – pobres, inclusive. É uma possibilidade de renda poder exportar esse know-how, em vez de importar”. Em síntese, o que os especialistas demonstram é que não existe uma fitoterapia – existem várias. A fitoterapia de autocuidado (a chamada de “atenção primária”, como acontece nos programas de saúde municipais e estaduais) e a fitoterapia de ponta, que pode se tornar um grande produto brasileiro de exportação. É quando todos ganham.
Experiência bem-sucedida
Há cerca de dez anos, o médico Luiz Sérgio Passos Alves, de Santos, foi convidado para ser voluntário no abrigo Vovó Benedita, uma instituição que reúne crianças para a adoção. Num sobrado de 6 x 25 m, vivem 56 crianças e adolescentes pesando entre 1,5 e 70 kg. “Por falta de espaço, cada berço comporta três bebês na vertical e o resto é quadriliche. Imagine como uma doença se dissemina nesse meio”, diz. Homeopatas, ele e a mulher ficaram incumbidos de reduzir o número de internações, o uso indiscriminado de antibióticos e o custo com medicamento. “Achamos que só a homeopatia não daria conta e começamos a estudar fito”, diz. “Com a ajuda de Deus, da homeopatia, muita fitoterapia (xaropes à base de guaco, chá de cebola para o ouvido, chá-mate ou verde para reverter a diarréia) e uma enorme consciência solidária, o abrigo se tornou uma referência em saúde pelos baixos índices de internação (duas ao ano) e pelo uso coerente de medicamentos.” No momento, os médicos concluem uma parceria com a Universidade Santa Cecília, que produzirá gratuitamente os medicamentos utilizados no abrigo – pomada de calêndula para ferimentos, de camomila para assaduras e outros.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

A NECESSIDADE DO DESENVOLVIMENTO DA UNIFAP

Prof. Dr. José Carlos Tavares Carvalho
Reitor da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP
Pós-Doutor em Farmacologia Clínica pela Universidade Livre de Berlin

As Universidades Federais existem para desempenhar um papel de grande relevância nos locais onde estão inseridas, e assumir o compromisso com o desenvolvimento social da região, o que deve ser encarado como fator preponderante.
Quando se analisa a função de uma Universidade, é necessário citar a questão formadora, lembrando que esta deve ser o centro de formação em diversos aspectos, tais como: sócio-politico, humanístico, tecnológico e de sociabilidade. Neste contexto a Universidade Federal do Amapá – UNIFAP, única Instituição Federal de Ensino Superior do Estado do Amapá, é de grande importância para o desenvolvimento do Estado.
Ao ter completado em abril passado 16 anos, a UNIFAP ainda caminha para encontrar o seu real objetivo perante a sociedade amapaense. É claro que ao dar passos importantes na criação de novos cursos de graduação, que foram quatro nos últimos quatro anos, e cursos de pós-graduação, está parcialmente atendendo as demandas em nível de formação existentes no estado. Entretanto, observa-se um grande vazio no que diz respeito a inserção da sociedade amapaense nos aspectos inerentes ao seu desenvolvimento.
A carência de ensino superior no Estado do Amapá é comprovada pela grande expansão das instituições privadas no estado nos últimos anos. A justificativa que se aplica a este fenômeno, é o baixo desenvolvimento da UNIFAP no que se refere a implantação de novos cursos de graduação. Mas, vale ressaltar que nas IFES a criação de um novo curso tem que se dá a partir de um planejamento racional, ou seja, que envolva a análise e estruturação de todas as condições para o funcionamento mínimo do curso em questão. Assim, ao analisar o número de vagas para docentes recebido do MEC para a UNIFAP nos últimos anos foi irrisório, dando para suprir parcialmente a necessidade de alguns cursos. Vejamos que alguns cursos da UNIFAP funcionam no momento com apenas 7 professores, e diante da análise com base na disposição do tripé ensino – pesquisa – extensão, que o professor obrigatoriamente deve estar envolvido, é quase impossível que o curso caminhe para uma formação de qualidade. Mesmo assim, a UNIFAP se apresenta como a melhor instituição de ensino superior do Estado, obtendo bons conceitos nas avaliações oficiais. Então sobre este aspecto há a necessidade viemente de mais vagas para professores efetivos, que haja a expansão dos campi no interior, que hoje já são efetivamente registrados no MEC.
A integração social à UNIFAP irá acontecer através da expansão dos projetos de extensão. A formação em nível de graduação tem que ser complementada com as atividades extensionistas, que possam envolver os alunos com a sociedade através da oferta de trabalhos específicos dos seus cursos, assim colaborando com a comunidade, fazendo o elo entre a UNIFAP e a comunidade, contribuindo com o desenvolvimento social.
Espera-se que dentro de pouco tempo se possa efetivar todos os projetos de estruturação da UNIFAP, ou seja, fortalecer e expandir para o interior do estado os cursos de graduação observando os aspectos peculiares da região, efetivando as estruturas laboratoriais regionais, mais professores qualificados, implementação de mais bolsas de iniciação cientifica, efetivação dos projetos de extensão envolvidos com a realidade social da comunidade amapaense, e implantação de novos cursos de graduação e pós-graduação que atendam as demandas sociais do estado. Ressalta-se que a plena efetivação destas metas, só será possível com o real comprometimento de todos os setores que participam da estruturação do estado amapaense, principalmente os detentores da representatividade das camadas sociais nos âmbitos municipal, estadual e federal.
Pode-se dizer que o Estado do Amapá é um estado que figura com um grande privilégio, pois possui a maior área preservada em termos de recursos naturais de todo o Brasil, e serve de exemplo para vários paises. Então, a UNIFAP tem um papel fundamental para manter esta preservação e lutar pelo desenvolvimento sustentável, que possa manter as populações tradicionais em seus territórios, que estabeleça a pesquisa de novos fármacos com intuito de resolver as endemias básicas. Sobre este ultimo aspecto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece e apóia as iniciativas de pesquisas que possam levar a descoberta de novos fármacos a partir de recursos da própria região endêmica. Em relação a este fato, pretende-se implantar o curso de Farmácia com a cara do Amapá, que tenha como meta principal a formação de farmacêuticos voltados ao desenvolvimento de fármacos, não atrelados as multinacionais, mas sim, voltados ao conhecimento tradicional, preservando-os com base cientifica.
Em relação as interações sociais, faz-se necessário revisar e debater os cursos já existentes que envolvam as áreas de humanidades e sociais. Estes cursos deverão obrigatoriamente estabelecer as suas funções nas interações sócio-ambientais e humanísticas. Não se deve esquecer que a UNIFAP está situada em plena região amazônica, na fronteira com as guianas, e ainda é considerada celeiro do mundo, e para fortalecer as práticas referentes a estes cursos, já está em implantação o projeto de construção do Centro de Estudo em Sócio-Biodiversidade, que virá integrar todas as ações voltadas ao estudo e preservação dos costumes e recursos naturais presentes no estado.
Diante da avultada necessidade do estabelecimento do papel da UNIFAP em todos os contextos que norteiam o desenvolvimento do Estado do Amapá, posicionando-o em termos de Brasil, na questão do ensino, da pesquisa, e da extensão, tem-se que trabalhar urgentemente em um efetivo plano de desenvolvimento institucional (PDI), que seja estratégico para a caracterização do papel da UNIFAP no processo do desenvolvimento regional, e com isso o projeto pedagógico institucional (PPI) terá como atender as peculiaridades regionais inerentes a comunidade amazônida.
O que se quer, é que a UNIFAP cumpra o seu papel, estabelecendo suas metas reais em termos de estado e na valorização do ser humano. A educação tem que ser para todos, mas deve ser apresentada e efetivada com toda responsabilidade possível, principalmente quando se fala na manutenção da integridade humana.

Universidade nova: nem Harvard, nem Bolonha

PROF. DR. NAOMAR DE ALMEIDA FILHO, Reitor da Universidade Federal da Bahia - UFBA

A educação universitária brasileira atual conserva modelos de formação oriundos das universidades européias do século XIX. Nela prevalece uma concepção fragmentada do conhecimento, agravada por reformas universitárias incompletas (e frustradas), nas décadas de 1960-1970, e por um período de desregulamentação da educação superior, nas décadas 1980-1990.
Na graduação, temos hoje um profuso sistema de títulos e denominações correlatas: Licenciatura, Bacharelado, Habilitação, Ênfase, Tecnólogo e denominações profissionais diretas (Médico, Dentista etc.). Filha da reforma universitária do regime militar, a pós-graduação é um capítulo à parte. Por exemplo, o Mestrado brasileiro não tem correspondência em nenhum país desenvolvido, seja o Master no sistema anglo-saxão, a Maitrîse francesa ou o Magister alemão. O título MBA, literalmente vendido no Brasil como pós-graduação, designa nos EUA a graduação do administrador de empresas.
Além de confusa e diversificada, essa arquitetura acadêmica sofre de outros problemas. Há excessiva precocidade na escolha de carreira profissional, completada por um sistema “traumático” e socialmente excludente para ingresso na graduação, o famigerado Vestibular. De fato, no Brasil, muito cedo, aos 16 ou 17 anos, os jovens tomam a decisão de carreira profissional de nível universitário. O ingresso direto a cursos profissionais, através de um exame feito para recrutar memorizadores de informações, desresponsabiliza a universidade pela cultura humanística e civil dos jovens.
Tal modelo de educação, decerto elitista, foi criado na França do século XIX, com a implantação de um núcleo de educação preparatória chamado Licée. Os alunos tinham formação prévia de base humanística e entravam diretamente em cursos profissionais de uma universidade elitizada. Naquela época, apenas cinco profissões estavam formalizadas, com poucos núcleos de conhecimentos e competências. Nessas condições, os jovens podiam entrar na universidade em fase mais precoce de suas vidas. Hoje, isso foi superado. O mundo é bem mais complexo que na Belle Époque. Mesmo a conservadora França ultrapassou este modelo. Engaja-se no processo de unificação da educação superior da União Européia chamado de Processo de Bolonha, baseado num Bachelor de estudos gerais.
Nos Estados Unidos, a educação fundamental e média, desde o início do século XX, é gratuita e universalizada. A elite brasileira critica a high-school americana por ser mais fraca que o nosso padrão do ensino médio. Este é um equívoco, pois se compara um sistema público de educação (o norte-americano) com uma elite de escolas privadas, especialistas em preparar jovens para ingresso em universidades públicas (brasileiras). O aluno norte-americano entra na universidade para um período de formação científica e cultural no undergraduate college, e só depois tem acesso a cursos de mestrado ou doutorado, definidores de profissões.
Na mistura de modelos que constituiu a confusa arquitetura da educação superior no Brasil, a educação científica e humanística ficou de fora. A nossa escola pública abandonou os estudos clássicos do velho sistema, e nunca conseguimos realizar uma reforma universitária capaz de trazer para dentro da universidade a formação intelectual necessária para compreender o mundo, a sociedade e a história. Destruímos o licée e não chegamos a implantar o college. Terminamos com um ensino médio meramente adestrador e com uma universidade que, na melhor das hipóteses, é capaz de formar técnicos competentes, porém... incultos.
Tudo isso teria sido diferente, caso tivéssemos acompanhado o mestre Anísio Teixeira, em duas oportunidades históricas. Na primeira vez, em meados da década de 1930, a Ditadura Vargas esmagou a Universidade do Distrito Federal, concebida pelos maiores intelectuais brasileiros da época, liderados por Anísio. A semente foi replantada na Universidade de Brasília, para logo ser reprimida brutalmente pelo golpe militar de 1964, que demitiu, prendeu e exilou vários dos seus docentes, a começar pelo Reitor Anísio Teixeira.
A Universidade Federal da Bahia encontra-se num momento privilegiado para iniciar, e aprofundar um processo de mudança da universidade pública brasileira, tornando-a compatível tanto com o modelo norte-americano quanto com o modelo do Processo de Bolonha. Podemos assim concretizar a Universidade Nova, diretamente inspirada nos conceitos da Escola Nova de Anísio Teixeira. A principal proposta é a implantação de Bacharelados Interdisciplinares, mediante uma pré-graduação em cultura universitária geral antes da carreira profissional de graduação e a formação científica ou artística da pós-graduação.
Neste momento, devemos aproveitar a chance de criar um novo sistema de educação universitária e articulá-lo com o que é predominante no mundo. Articulação e compatibilidade não significam submissão. Portanto, nem Harvard nem Bolonha, e sim a Universidade Nova. De todo modo, se não transformarmos radicalmente nosso modelo de educação superior, o Brasil pode ficar isolado no que se refere a formação profissional, científica e cultural. Nesse caso, seremos, em 2010, o único país com algum grau de desenvolvimento industrial a conservar um sistema de educação universitária do século XIX. Como os outros países já se encontram no terceiro milênio, isso será intolerável para o projeto de desenvolvimento da nação brasileira.

Universidade Nova: Descrição da Proposta

A idéia de estudos superiores de graduação de maior amplitude e não comprometidos com uma profissionalização precoce e fechada, bem como maior integração entre esses estudos e os de pós-graduação, já é realidade em muitos países social e economicamente desenvolvidos. O processo europeu de Bolonha é um exemplo eloqüente dessa concepção acadêmica que, por força das demandas da Sociedade do Conhecimento e de um mundo do trabalho marcado pela desregulamentação, flexibilidade e imprevisibilidade, certamente se consolidará como um dos modelos de educação superior de referência para o futuro próximo.
Um aspecto estreitamente relacionado a essa nova concepção de educação superior é o da interdisciplinaridade. Definida como o estabelecimento de nexos significativos entre os campos disciplinares, a interdisciplinaridade tornou-se uma exigência dos currículos contemporâneos em todos os níveis, etapas e modalidades educacionais.
Embora o conhecimento no mundo atual seja produzido em âmbitos altamente especializados, o entendimento da totalidade desse mundo, cada vez mais complexo e multidimensional, requer dos processos formais de ensino-aprendizagem uma abordagem integradora que confira sentido e significado ao conjunto de informações que se apresentam em fragmentos desconexos.
A proposta aqui denominada de Universidade Nova implica uma transformação radical da atual arquitetura acadêmica da universidade pública brasileira, visando a superar os desafios, resultando em um modelo compatível tanto com o Modelo Norte-Americano (de origem flexneriana) quanto com o Modelo Unificado Europeu (processo de Bolonha).
A principal alteração proposta na estrutura curricular da universidade é a implantação de Bacharelados Interdisciplinares (BI), propiciando formação universitária geral, como uma pré-graduação que antecederá a formação profissional de graduação e a formação científica ou artística da pós-graduação. Os Bacharelados Interdisciplinares representam uma alternativa avançada de estudos superiores que permitirão reunir numa única modalidade de curso de graduação um conjunto de características que hoje vem sendo requeridas:
O alargamento da amplitude da base dos estudos superiores, permitindo uma ampliação de conhecimentos e competências cognitivas;
A flexibilização curricular através do aumento de componentes optativos que proporcionarão aos estudantes a escolha de seus próprios percursos de aprendizagem;
A introdução de dispositivos curriculares que promovam a integração entre conteúdos disciplinares
O adiamento de escolhas profissionais precoces que têm como conseqüência prejuízos individuais e institucionais.
O Bacharelado Interdisciplinar terá duração de três anos, abrangendo grandes áreas do conhecimento: Humanidades, Artes, Ciências (da matéria, da vida, da saúde, da sociedade e sociais aplicadas), Tecnologias. O currículo do BI poderá ser formado por quatro componentes: FG – formação geral obrigatória, FD – formação diferencial (optativas), FP – formação profissional, além de uma seqüência de cursos-tronco paralelos durante todo o programa, como, por exemplo, língua e cultura brasileira e língua estrangeira moderna.
Na FG (Formação Geral), haverá módulos de filosofia (lógica, ética e estética), pensamento matemático, história, antropologia, literatura, estudos clássicos, expressão escrita, princípios e uso de informática, política e cidadania, ecologia, iniciação científica, atividade curricular comunitária, entre outros.
Os cursos FD serão optativos e oferecidos aos alunos de todas as opções de BI, sem distinção de nível, integrando graduação e pós-graduação. Buscando contribuir para escolhas maduras de carreira profissional, nessa etapa serão oferecidos módulos de introdução aos cursos profissionais, a exemplo da “Introdução às Engenharias” já existente na Escola Politécnica e da “Introdução à Psicologia” na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.
Os cursos FP serão optativos e oferecidos somente aos alunos da área de conhecimento do BI correspondente que concluíram o FG. Como a prioridade de matrícula nos cursos FP será dada por desempenho do aluno nos cursos FG e FD, haverá um permanente estímulo ao bom desempenho para aqueles alunos que pretendem usar o BI como via de entrada à formação profissional.
Na Universidade Nova, uma vez concluído o BI, o egresso poderá enfrentar o mundo do trabalho, com diploma de bacharel em área geral de conhecimento (Artes, Humanidades, Ciências, Tecnologias). Caso deseje, haverá as seguintes opções de prosseguimento de estudos:
Aluno(a)s vocacionados para a docência poderão prestar seleção para licenciaturas específicas (p.ex. do BI em Ciências da Matéria para Licenciatura em Matemática, Física ou Química), com mais 1 a 2 anos de formação profissional, o que habilita o aluno(a) a lecionar nos níveis básicos de educação;
Aluno(a)s vocacionados para carreiras específicas poderão prestar seleção para cursos profissionais (p.ex. Arquitetura, Enfermagem, Direito, Medicina, Engenharia etc.), com mais 2 a 5 anos de formação, levando todos os créditos dos cursos do BI;
Aluno(a)s com excepcional talento e desempenho, se aprovados em processos seletivos específicos, poderão ingressar em programas de pós-graduação, como o mestrado profissionalizante ou o mestrado acadêmico, podendo prosseguir para o Doutorado, caso pretenda tornar-se professor ou pesquisador.
Naturalmente, todos esses pontos constituem propostas preliminares, sujeitas a críticas, discussões e revisões, especialmente do ponto de vista de política institucional. Na mesma medida, há muitas outras questões, inclusive técnicas e legais, ainda em aberto.

O Brasil vive um ‘apartheid’ educacional

Os últimos resultados das avaliações do ensino básico brasileiro (educação infantil, fundamental e ensino médio) divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) mostram, além do baixo rendimento do ensino fundamental e do ensino médio, o crescente abismo entre a educação pública a particular. Essa realidade traz graves consequências para a formação ética, política e cultural da sociedade brasileira. Hoje, das 55,9 milhões matrículas no ensino da educação básica, 86,5% são feitas pela rede pública; no ensino médio, 85,15% estudam na rede estadual de ensino.
Os resultados do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) revelam, juntamente com a queda do desempenho dos estudantes do ensino médio, a disparidade entre os alunos da escola pública e privada. Aqueles que estudaram somente em escola pública obtiveram média 34,94 na prova objetiva e 51,23 na redação, enquanto o grupo que declarou ter estudado somente em escola particular teve média de 50,57 na parte objetiva e de 59,77 na redação. Além disso, dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), aplicado em 2005, revelaram que estudantes da 8ª série do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio do país têm o pior resultado em português e matemática dos últimos dez anos.
O reflexo de uma educação pública que não decola está exposto aos olhos e na própria sociedade. Para o professor Roberto Leher, da Faculdade de Educação da UFRJ e membro do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) está em curso um “apartheid” educacional e científico-tecnológico que opõem países centrais e periféricos e, dentro de cada país, ricos e pobres. “Vistos de perto, é possível concluir que os indicadores educacionais escondem um verdadeiro genocídio intelectual em curso no país. Os resultados do teste aplicado na pesquisa do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf-2004) revelam que apenas 23% da população jovem e adulta brasileira é capaz de adotar e controlar uma estratégia na resolução de um problema que envolva a execução de uma série de operações. É ainda mais preocupante a revelação de que apenas nesse grupo encontram-se os sujeitos que demonstram certa familiaridade com representações gráficas como mapas, tabelas e gráficos”, completa Leher.
De acordo com dados da professor, metade dos jovens de 15-17 anos está cursando o ensino médio e, dentre os jovens de 18-24 anos, somente 11% estão matriculados na educação superior, 75% dos quais em instituições privadas, predominantemente de baixa qualidade. Outro problema da educação brasileira trata-se de instrumentalização, que atinge também, segundo Leher, escolas particulares. “O ensino privado em geral também vai mal, pois o drama é que a baixa escolaridade da juventude brasileira é operacional para o padrão de acumulação em curso. Não devemos nos esquecer que quase 90% dos novos empregos são de cerca de 2 salários mínimos. São empregos pouco sofisticados em termos de conhecimento científico”, aponta o docente.
Elitismo - O educador e filósofo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Gaudêncio Frigotto, destaca que há duas consequências para baixa qualidade da educação básica no Brasil: a falta de cidadania real e o a permanência do ideal elitista de uma minoria. “O resultado é político, cultural e ético. Ninguém senta para analisar quem produziu esses seres humanos tão monstruosamente frios na bárbarie do carro que o arrastou uma criança no Rio de Janeiro. Eles não são naturais, são historicamente produzidos”, diz o professor da UERJ.
Para Leher, a degradação da qualidade do ensino público vem desde o momento em que a pressão social por seu acesso impôs a sua ampliação, em especial no governo empresarial-militar. “Quando a expansão foi inevitável, os setores dominantes nada fizeram para garantir uma escola de qualidade, ao contrário, operaram no sentido de manter uma escola minimalista para o povo”, afirma o educador.
A autonomia organizativa na própria escola pode ser um dos fatores para melhorar a qualidade do ensino público. “Com escolas em ruínas, professores mal pagos e quase nula assistência estudantil não é possível reverter esse quadro. Junto com a mudança no padrão de financiamento, é preciso estimular as escolas a se auto-organizarem, efetivando com autonomia o seu projeto político- pedagógico em interação com os pais e com os estudantes, com os sindicatos e movimentos sociais”, afirma Leher.
Expansão sem qualidade
A falta de investimento na educação básica na década passada de maneira mais ampla é apontada como crucial para compreender a atual situação do ensino básico. Os Censos Escolares vêm demonstrando a expansão das vagas do ensino médio, mas sem a qualidade necessária. Em 1996, o número de matrículas feitas no Ensino Médio da Rede Estadual era de 4.137.324. No ano passado, foi de 9.575.538 matrículas. “Com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), a política que o ex-presidente Fernando Henrique promoveu foi de retração, de garantir apenas o que estava dentro da faixa etária da Constituição, que era dos 7 aos 14 anos. Não houve a preocupação com o conjunto da educação básica”, diz Juçara Maria Dutra Vieira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), que aponta o investimento mais amplo, como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), como um sinalizador importante no governo Lula. “Mas continua sendo uma política insuficiente porque o percentual do PIB está se mantendo em aplicação na educação desde o começo do governo de FHC, que girava em torno de 3,5%. Hoje está em 4,3% do PIB, mas o próprio CDES recomenda os 6% que a Unesco requer do produto interno bruto (PIB)”, explica Vieira.
O tratamento dado à educação nos anos 1990 é o que Roberto Leher denomina de mais um fracesso neoliberal. “O Banco Mundial, a Unesco, a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) e os governos neoliberais, escudados por seus intelectuais, diagnosticaram que, na América Latina, somente teria sentido o Estado investir na educação fundamental. Ao examinarem a situação da educação fundamental concluíram que não havia mais problema de acesso e, ainda, que os Estados já gastavam bastante com a educação”, indigna-se Leher.
A retomada de uma guinada educacional é vislumbrada, como sempre, no âmago da correlação de forças políticas. Segundo Frigotto, para mudar a situação vigente, as prioridades econômicas devem ser repensadas. “Pagando o superávit primário que pagamos não haverá dinheiro para estruturar as escolas. O que está faltando é um salto de qualidade que pressupõe mexer na política econômica”, ressalta o pedagogo.
Para Leher, os movimentos sociais e sindicais, junto com entidades acadêmicas e estudantis, lograram uma importante vitória no Plano Nacional de Educação, “talvez o único ponto exitoso nessa luta: a definição de 7% do PIB para a educação pública brasileira”, lembra o sociólogo. Mas conta que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vetou esse dispositivo e que o atual, apesar das promessas de que derrubaria o veto, o manteve, “tudo em nome do sacrossanto superávit primário que carrega o grosso do excedente econômico para as 7 mil famílias de rentistas”, conclui.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/um-genocidio-intelectual-nas-escolas