Prof. Dr. José Carlos Tavares Carvalho
Reitor da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP
Pós-Doutor em Farmacologia Clínica pela Universidade Livre de Berlin
As Universidades Federais existem para desempenhar um papel de grande relevância nos locais onde estão inseridas, e assumir o compromisso com o desenvolvimento social da região, o que deve ser encarado como fator preponderante.
Quando se analisa a função de uma Universidade, é necessário citar a questão formadora, lembrando que esta deve ser o centro de formação em diversos aspectos, tais como: sócio-politico, humanístico, tecnológico e de sociabilidade. Neste contexto a Universidade Federal do Amapá – UNIFAP, única Instituição Federal de Ensino Superior do Estado do Amapá, é de grande importância para o desenvolvimento do Estado.
Ao ter completado em abril passado 16 anos, a UNIFAP ainda caminha para encontrar o seu real objetivo perante a sociedade amapaense. É claro que ao dar passos importantes na criação de novos cursos de graduação, que foram quatro nos últimos quatro anos, e cursos de pós-graduação, está parcialmente atendendo as demandas em nível de formação existentes no estado. Entretanto, observa-se um grande vazio no que diz respeito a inserção da sociedade amapaense nos aspectos inerentes ao seu desenvolvimento.
A carência de ensino superior no Estado do Amapá é comprovada pela grande expansão das instituições privadas no estado nos últimos anos. A justificativa que se aplica a este fenômeno, é o baixo desenvolvimento da UNIFAP no que se refere a implantação de novos cursos de graduação. Mas, vale ressaltar que nas IFES a criação de um novo curso tem que se dá a partir de um planejamento racional, ou seja, que envolva a análise e estruturação de todas as condições para o funcionamento mínimo do curso em questão. Assim, ao analisar o número de vagas para docentes recebido do MEC para a UNIFAP nos últimos anos foi irrisório, dando para suprir parcialmente a necessidade de alguns cursos. Vejamos que alguns cursos da UNIFAP funcionam no momento com apenas 7 professores, e diante da análise com base na disposição do tripé ensino – pesquisa – extensão, que o professor obrigatoriamente deve estar envolvido, é quase impossível que o curso caminhe para uma formação de qualidade. Mesmo assim, a UNIFAP se apresenta como a melhor instituição de ensino superior do Estado, obtendo bons conceitos nas avaliações oficiais. Então sobre este aspecto há a necessidade viemente de mais vagas para professores efetivos, que haja a expansão dos campi no interior, que hoje já são efetivamente registrados no MEC.
A integração social à UNIFAP irá acontecer através da expansão dos projetos de extensão. A formação em nível de graduação tem que ser complementada com as atividades extensionistas, que possam envolver os alunos com a sociedade através da oferta de trabalhos específicos dos seus cursos, assim colaborando com a comunidade, fazendo o elo entre a UNIFAP e a comunidade, contribuindo com o desenvolvimento social.
Espera-se que dentro de pouco tempo se possa efetivar todos os projetos de estruturação da UNIFAP, ou seja, fortalecer e expandir para o interior do estado os cursos de graduação observando os aspectos peculiares da região, efetivando as estruturas laboratoriais regionais, mais professores qualificados, implementação de mais bolsas de iniciação cientifica, efetivação dos projetos de extensão envolvidos com a realidade social da comunidade amapaense, e implantação de novos cursos de graduação e pós-graduação que atendam as demandas sociais do estado. Ressalta-se que a plena efetivação destas metas, só será possível com o real comprometimento de todos os setores que participam da estruturação do estado amapaense, principalmente os detentores da representatividade das camadas sociais nos âmbitos municipal, estadual e federal.
Pode-se dizer que o Estado do Amapá é um estado que figura com um grande privilégio, pois possui a maior área preservada em termos de recursos naturais de todo o Brasil, e serve de exemplo para vários paises. Então, a UNIFAP tem um papel fundamental para manter esta preservação e lutar pelo desenvolvimento sustentável, que possa manter as populações tradicionais em seus territórios, que estabeleça a pesquisa de novos fármacos com intuito de resolver as endemias básicas. Sobre este ultimo aspecto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece e apóia as iniciativas de pesquisas que possam levar a descoberta de novos fármacos a partir de recursos da própria região endêmica. Em relação a este fato, pretende-se implantar o curso de Farmácia com a cara do Amapá, que tenha como meta principal a formação de farmacêuticos voltados ao desenvolvimento de fármacos, não atrelados as multinacionais, mas sim, voltados ao conhecimento tradicional, preservando-os com base cientifica.
Em relação as interações sociais, faz-se necessário revisar e debater os cursos já existentes que envolvam as áreas de humanidades e sociais. Estes cursos deverão obrigatoriamente estabelecer as suas funções nas interações sócio-ambientais e humanísticas. Não se deve esquecer que a UNIFAP está situada em plena região amazônica, na fronteira com as guianas, e ainda é considerada celeiro do mundo, e para fortalecer as práticas referentes a estes cursos, já está em implantação o projeto de construção do Centro de Estudo em Sócio-Biodiversidade, que virá integrar todas as ações voltadas ao estudo e preservação dos costumes e recursos naturais presentes no estado.
Diante da avultada necessidade do estabelecimento do papel da UNIFAP em todos os contextos que norteiam o desenvolvimento do Estado do Amapá, posicionando-o em termos de Brasil, na questão do ensino, da pesquisa, e da extensão, tem-se que trabalhar urgentemente em um efetivo plano de desenvolvimento institucional (PDI), que seja estratégico para a caracterização do papel da UNIFAP no processo do desenvolvimento regional, e com isso o projeto pedagógico institucional (PPI) terá como atender as peculiaridades regionais inerentes a comunidade amazônida.
O que se quer, é que a UNIFAP cumpra o seu papel, estabelecendo suas metas reais em termos de estado e na valorização do ser humano. A educação tem que ser para todos, mas deve ser apresentada e efetivada com toda responsabilidade possível, principalmente quando se fala na manutenção da integridade humana.
domingo, 25 de fevereiro de 2007
Universidade nova: nem Harvard, nem Bolonha
PROF. DR. NAOMAR DE ALMEIDA FILHO, Reitor da Universidade Federal da Bahia - UFBA
A educação universitária brasileira atual conserva modelos de formação oriundos das universidades européias do século XIX. Nela prevalece uma concepção fragmentada do conhecimento, agravada por reformas universitárias incompletas (e frustradas), nas décadas de 1960-1970, e por um período de desregulamentação da educação superior, nas décadas 1980-1990.
Na graduação, temos hoje um profuso sistema de títulos e denominações correlatas: Licenciatura, Bacharelado, Habilitação, Ênfase, Tecnólogo e denominações profissionais diretas (Médico, Dentista etc.). Filha da reforma universitária do regime militar, a pós-graduação é um capítulo à parte. Por exemplo, o Mestrado brasileiro não tem correspondência em nenhum país desenvolvido, seja o Master no sistema anglo-saxão, a Maitrîse francesa ou o Magister alemão. O título MBA, literalmente vendido no Brasil como pós-graduação, designa nos EUA a graduação do administrador de empresas.
Além de confusa e diversificada, essa arquitetura acadêmica sofre de outros problemas. Há excessiva precocidade na escolha de carreira profissional, completada por um sistema “traumático” e socialmente excludente para ingresso na graduação, o famigerado Vestibular. De fato, no Brasil, muito cedo, aos 16 ou 17 anos, os jovens tomam a decisão de carreira profissional de nível universitário. O ingresso direto a cursos profissionais, através de um exame feito para recrutar memorizadores de informações, desresponsabiliza a universidade pela cultura humanística e civil dos jovens.
Tal modelo de educação, decerto elitista, foi criado na França do século XIX, com a implantação de um núcleo de educação preparatória chamado Licée. Os alunos tinham formação prévia de base humanística e entravam diretamente em cursos profissionais de uma universidade elitizada. Naquela época, apenas cinco profissões estavam formalizadas, com poucos núcleos de conhecimentos e competências. Nessas condições, os jovens podiam entrar na universidade em fase mais precoce de suas vidas. Hoje, isso foi superado. O mundo é bem mais complexo que na Belle Époque. Mesmo a conservadora França ultrapassou este modelo. Engaja-se no processo de unificação da educação superior da União Européia chamado de Processo de Bolonha, baseado num Bachelor de estudos gerais.
Nos Estados Unidos, a educação fundamental e média, desde o início do século XX, é gratuita e universalizada. A elite brasileira critica a high-school americana por ser mais fraca que o nosso padrão do ensino médio. Este é um equívoco, pois se compara um sistema público de educação (o norte-americano) com uma elite de escolas privadas, especialistas em preparar jovens para ingresso em universidades públicas (brasileiras). O aluno norte-americano entra na universidade para um período de formação científica e cultural no undergraduate college, e só depois tem acesso a cursos de mestrado ou doutorado, definidores de profissões.
Na mistura de modelos que constituiu a confusa arquitetura da educação superior no Brasil, a educação científica e humanística ficou de fora. A nossa escola pública abandonou os estudos clássicos do velho sistema, e nunca conseguimos realizar uma reforma universitária capaz de trazer para dentro da universidade a formação intelectual necessária para compreender o mundo, a sociedade e a história. Destruímos o licée e não chegamos a implantar o college. Terminamos com um ensino médio meramente adestrador e com uma universidade que, na melhor das hipóteses, é capaz de formar técnicos competentes, porém... incultos.
Tudo isso teria sido diferente, caso tivéssemos acompanhado o mestre Anísio Teixeira, em duas oportunidades históricas. Na primeira vez, em meados da década de 1930, a Ditadura Vargas esmagou a Universidade do Distrito Federal, concebida pelos maiores intelectuais brasileiros da época, liderados por Anísio. A semente foi replantada na Universidade de Brasília, para logo ser reprimida brutalmente pelo golpe militar de 1964, que demitiu, prendeu e exilou vários dos seus docentes, a começar pelo Reitor Anísio Teixeira.
A Universidade Federal da Bahia encontra-se num momento privilegiado para iniciar, e aprofundar um processo de mudança da universidade pública brasileira, tornando-a compatível tanto com o modelo norte-americano quanto com o modelo do Processo de Bolonha. Podemos assim concretizar a Universidade Nova, diretamente inspirada nos conceitos da Escola Nova de Anísio Teixeira. A principal proposta é a implantação de Bacharelados Interdisciplinares, mediante uma pré-graduação em cultura universitária geral antes da carreira profissional de graduação e a formação científica ou artística da pós-graduação.
Neste momento, devemos aproveitar a chance de criar um novo sistema de educação universitária e articulá-lo com o que é predominante no mundo. Articulação e compatibilidade não significam submissão. Portanto, nem Harvard nem Bolonha, e sim a Universidade Nova. De todo modo, se não transformarmos radicalmente nosso modelo de educação superior, o Brasil pode ficar isolado no que se refere a formação profissional, científica e cultural. Nesse caso, seremos, em 2010, o único país com algum grau de desenvolvimento industrial a conservar um sistema de educação universitária do século XIX. Como os outros países já se encontram no terceiro milênio, isso será intolerável para o projeto de desenvolvimento da nação brasileira.
A educação universitária brasileira atual conserva modelos de formação oriundos das universidades européias do século XIX. Nela prevalece uma concepção fragmentada do conhecimento, agravada por reformas universitárias incompletas (e frustradas), nas décadas de 1960-1970, e por um período de desregulamentação da educação superior, nas décadas 1980-1990.
Na graduação, temos hoje um profuso sistema de títulos e denominações correlatas: Licenciatura, Bacharelado, Habilitação, Ênfase, Tecnólogo e denominações profissionais diretas (Médico, Dentista etc.). Filha da reforma universitária do regime militar, a pós-graduação é um capítulo à parte. Por exemplo, o Mestrado brasileiro não tem correspondência em nenhum país desenvolvido, seja o Master no sistema anglo-saxão, a Maitrîse francesa ou o Magister alemão. O título MBA, literalmente vendido no Brasil como pós-graduação, designa nos EUA a graduação do administrador de empresas.
Além de confusa e diversificada, essa arquitetura acadêmica sofre de outros problemas. Há excessiva precocidade na escolha de carreira profissional, completada por um sistema “traumático” e socialmente excludente para ingresso na graduação, o famigerado Vestibular. De fato, no Brasil, muito cedo, aos 16 ou 17 anos, os jovens tomam a decisão de carreira profissional de nível universitário. O ingresso direto a cursos profissionais, através de um exame feito para recrutar memorizadores de informações, desresponsabiliza a universidade pela cultura humanística e civil dos jovens.
Tal modelo de educação, decerto elitista, foi criado na França do século XIX, com a implantação de um núcleo de educação preparatória chamado Licée. Os alunos tinham formação prévia de base humanística e entravam diretamente em cursos profissionais de uma universidade elitizada. Naquela época, apenas cinco profissões estavam formalizadas, com poucos núcleos de conhecimentos e competências. Nessas condições, os jovens podiam entrar na universidade em fase mais precoce de suas vidas. Hoje, isso foi superado. O mundo é bem mais complexo que na Belle Époque. Mesmo a conservadora França ultrapassou este modelo. Engaja-se no processo de unificação da educação superior da União Européia chamado de Processo de Bolonha, baseado num Bachelor de estudos gerais.
Nos Estados Unidos, a educação fundamental e média, desde o início do século XX, é gratuita e universalizada. A elite brasileira critica a high-school americana por ser mais fraca que o nosso padrão do ensino médio. Este é um equívoco, pois se compara um sistema público de educação (o norte-americano) com uma elite de escolas privadas, especialistas em preparar jovens para ingresso em universidades públicas (brasileiras). O aluno norte-americano entra na universidade para um período de formação científica e cultural no undergraduate college, e só depois tem acesso a cursos de mestrado ou doutorado, definidores de profissões.
Na mistura de modelos que constituiu a confusa arquitetura da educação superior no Brasil, a educação científica e humanística ficou de fora. A nossa escola pública abandonou os estudos clássicos do velho sistema, e nunca conseguimos realizar uma reforma universitária capaz de trazer para dentro da universidade a formação intelectual necessária para compreender o mundo, a sociedade e a história. Destruímos o licée e não chegamos a implantar o college. Terminamos com um ensino médio meramente adestrador e com uma universidade que, na melhor das hipóteses, é capaz de formar técnicos competentes, porém... incultos.
Tudo isso teria sido diferente, caso tivéssemos acompanhado o mestre Anísio Teixeira, em duas oportunidades históricas. Na primeira vez, em meados da década de 1930, a Ditadura Vargas esmagou a Universidade do Distrito Federal, concebida pelos maiores intelectuais brasileiros da época, liderados por Anísio. A semente foi replantada na Universidade de Brasília, para logo ser reprimida brutalmente pelo golpe militar de 1964, que demitiu, prendeu e exilou vários dos seus docentes, a começar pelo Reitor Anísio Teixeira.
A Universidade Federal da Bahia encontra-se num momento privilegiado para iniciar, e aprofundar um processo de mudança da universidade pública brasileira, tornando-a compatível tanto com o modelo norte-americano quanto com o modelo do Processo de Bolonha. Podemos assim concretizar a Universidade Nova, diretamente inspirada nos conceitos da Escola Nova de Anísio Teixeira. A principal proposta é a implantação de Bacharelados Interdisciplinares, mediante uma pré-graduação em cultura universitária geral antes da carreira profissional de graduação e a formação científica ou artística da pós-graduação.
Neste momento, devemos aproveitar a chance de criar um novo sistema de educação universitária e articulá-lo com o que é predominante no mundo. Articulação e compatibilidade não significam submissão. Portanto, nem Harvard nem Bolonha, e sim a Universidade Nova. De todo modo, se não transformarmos radicalmente nosso modelo de educação superior, o Brasil pode ficar isolado no que se refere a formação profissional, científica e cultural. Nesse caso, seremos, em 2010, o único país com algum grau de desenvolvimento industrial a conservar um sistema de educação universitária do século XIX. Como os outros países já se encontram no terceiro milênio, isso será intolerável para o projeto de desenvolvimento da nação brasileira.
Universidade Nova: Descrição da Proposta
A idéia de estudos superiores de graduação de maior amplitude e não comprometidos com uma profissionalização precoce e fechada, bem como maior integração entre esses estudos e os de pós-graduação, já é realidade em muitos países social e economicamente desenvolvidos. O processo europeu de Bolonha é um exemplo eloqüente dessa concepção acadêmica que, por força das demandas da Sociedade do Conhecimento e de um mundo do trabalho marcado pela desregulamentação, flexibilidade e imprevisibilidade, certamente se consolidará como um dos modelos de educação superior de referência para o futuro próximo.
Um aspecto estreitamente relacionado a essa nova concepção de educação superior é o da interdisciplinaridade. Definida como o estabelecimento de nexos significativos entre os campos disciplinares, a interdisciplinaridade tornou-se uma exigência dos currículos contemporâneos em todos os níveis, etapas e modalidades educacionais.
Embora o conhecimento no mundo atual seja produzido em âmbitos altamente especializados, o entendimento da totalidade desse mundo, cada vez mais complexo e multidimensional, requer dos processos formais de ensino-aprendizagem uma abordagem integradora que confira sentido e significado ao conjunto de informações que se apresentam em fragmentos desconexos.
A proposta aqui denominada de Universidade Nova implica uma transformação radical da atual arquitetura acadêmica da universidade pública brasileira, visando a superar os desafios, resultando em um modelo compatível tanto com o Modelo Norte-Americano (de origem flexneriana) quanto com o Modelo Unificado Europeu (processo de Bolonha).
A principal alteração proposta na estrutura curricular da universidade é a implantação de Bacharelados Interdisciplinares (BI), propiciando formação universitária geral, como uma pré-graduação que antecederá a formação profissional de graduação e a formação científica ou artística da pós-graduação. Os Bacharelados Interdisciplinares representam uma alternativa avançada de estudos superiores que permitirão reunir numa única modalidade de curso de graduação um conjunto de características que hoje vem sendo requeridas:
O alargamento da amplitude da base dos estudos superiores, permitindo uma ampliação de conhecimentos e competências cognitivas;
A flexibilização curricular através do aumento de componentes optativos que proporcionarão aos estudantes a escolha de seus próprios percursos de aprendizagem;
A introdução de dispositivos curriculares que promovam a integração entre conteúdos disciplinares
O adiamento de escolhas profissionais precoces que têm como conseqüência prejuízos individuais e institucionais.
O Bacharelado Interdisciplinar terá duração de três anos, abrangendo grandes áreas do conhecimento: Humanidades, Artes, Ciências (da matéria, da vida, da saúde, da sociedade e sociais aplicadas), Tecnologias. O currículo do BI poderá ser formado por quatro componentes: FG – formação geral obrigatória, FD – formação diferencial (optativas), FP – formação profissional, além de uma seqüência de cursos-tronco paralelos durante todo o programa, como, por exemplo, língua e cultura brasileira e língua estrangeira moderna.
Na FG (Formação Geral), haverá módulos de filosofia (lógica, ética e estética), pensamento matemático, história, antropologia, literatura, estudos clássicos, expressão escrita, princípios e uso de informática, política e cidadania, ecologia, iniciação científica, atividade curricular comunitária, entre outros.
Os cursos FD serão optativos e oferecidos aos alunos de todas as opções de BI, sem distinção de nível, integrando graduação e pós-graduação. Buscando contribuir para escolhas maduras de carreira profissional, nessa etapa serão oferecidos módulos de introdução aos cursos profissionais, a exemplo da “Introdução às Engenharias” já existente na Escola Politécnica e da “Introdução à Psicologia” na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.
Os cursos FP serão optativos e oferecidos somente aos alunos da área de conhecimento do BI correspondente que concluíram o FG. Como a prioridade de matrícula nos cursos FP será dada por desempenho do aluno nos cursos FG e FD, haverá um permanente estímulo ao bom desempenho para aqueles alunos que pretendem usar o BI como via de entrada à formação profissional.
Na Universidade Nova, uma vez concluído o BI, o egresso poderá enfrentar o mundo do trabalho, com diploma de bacharel em área geral de conhecimento (Artes, Humanidades, Ciências, Tecnologias). Caso deseje, haverá as seguintes opções de prosseguimento de estudos:
Aluno(a)s vocacionados para a docência poderão prestar seleção para licenciaturas específicas (p.ex. do BI em Ciências da Matéria para Licenciatura em Matemática, Física ou Química), com mais 1 a 2 anos de formação profissional, o que habilita o aluno(a) a lecionar nos níveis básicos de educação;
Aluno(a)s vocacionados para carreiras específicas poderão prestar seleção para cursos profissionais (p.ex. Arquitetura, Enfermagem, Direito, Medicina, Engenharia etc.), com mais 2 a 5 anos de formação, levando todos os créditos dos cursos do BI;
Aluno(a)s com excepcional talento e desempenho, se aprovados em processos seletivos específicos, poderão ingressar em programas de pós-graduação, como o mestrado profissionalizante ou o mestrado acadêmico, podendo prosseguir para o Doutorado, caso pretenda tornar-se professor ou pesquisador.
Naturalmente, todos esses pontos constituem propostas preliminares, sujeitas a críticas, discussões e revisões, especialmente do ponto de vista de política institucional. Na mesma medida, há muitas outras questões, inclusive técnicas e legais, ainda em aberto.
Um aspecto estreitamente relacionado a essa nova concepção de educação superior é o da interdisciplinaridade. Definida como o estabelecimento de nexos significativos entre os campos disciplinares, a interdisciplinaridade tornou-se uma exigência dos currículos contemporâneos em todos os níveis, etapas e modalidades educacionais.
Embora o conhecimento no mundo atual seja produzido em âmbitos altamente especializados, o entendimento da totalidade desse mundo, cada vez mais complexo e multidimensional, requer dos processos formais de ensino-aprendizagem uma abordagem integradora que confira sentido e significado ao conjunto de informações que se apresentam em fragmentos desconexos.
A proposta aqui denominada de Universidade Nova implica uma transformação radical da atual arquitetura acadêmica da universidade pública brasileira, visando a superar os desafios, resultando em um modelo compatível tanto com o Modelo Norte-Americano (de origem flexneriana) quanto com o Modelo Unificado Europeu (processo de Bolonha).
A principal alteração proposta na estrutura curricular da universidade é a implantação de Bacharelados Interdisciplinares (BI), propiciando formação universitária geral, como uma pré-graduação que antecederá a formação profissional de graduação e a formação científica ou artística da pós-graduação. Os Bacharelados Interdisciplinares representam uma alternativa avançada de estudos superiores que permitirão reunir numa única modalidade de curso de graduação um conjunto de características que hoje vem sendo requeridas:
O alargamento da amplitude da base dos estudos superiores, permitindo uma ampliação de conhecimentos e competências cognitivas;
A flexibilização curricular através do aumento de componentes optativos que proporcionarão aos estudantes a escolha de seus próprios percursos de aprendizagem;
A introdução de dispositivos curriculares que promovam a integração entre conteúdos disciplinares
O adiamento de escolhas profissionais precoces que têm como conseqüência prejuízos individuais e institucionais.
O Bacharelado Interdisciplinar terá duração de três anos, abrangendo grandes áreas do conhecimento: Humanidades, Artes, Ciências (da matéria, da vida, da saúde, da sociedade e sociais aplicadas), Tecnologias. O currículo do BI poderá ser formado por quatro componentes: FG – formação geral obrigatória, FD – formação diferencial (optativas), FP – formação profissional, além de uma seqüência de cursos-tronco paralelos durante todo o programa, como, por exemplo, língua e cultura brasileira e língua estrangeira moderna.
Na FG (Formação Geral), haverá módulos de filosofia (lógica, ética e estética), pensamento matemático, história, antropologia, literatura, estudos clássicos, expressão escrita, princípios e uso de informática, política e cidadania, ecologia, iniciação científica, atividade curricular comunitária, entre outros.
Os cursos FD serão optativos e oferecidos aos alunos de todas as opções de BI, sem distinção de nível, integrando graduação e pós-graduação. Buscando contribuir para escolhas maduras de carreira profissional, nessa etapa serão oferecidos módulos de introdução aos cursos profissionais, a exemplo da “Introdução às Engenharias” já existente na Escola Politécnica e da “Introdução à Psicologia” na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.
Os cursos FP serão optativos e oferecidos somente aos alunos da área de conhecimento do BI correspondente que concluíram o FG. Como a prioridade de matrícula nos cursos FP será dada por desempenho do aluno nos cursos FG e FD, haverá um permanente estímulo ao bom desempenho para aqueles alunos que pretendem usar o BI como via de entrada à formação profissional.
Na Universidade Nova, uma vez concluído o BI, o egresso poderá enfrentar o mundo do trabalho, com diploma de bacharel em área geral de conhecimento (Artes, Humanidades, Ciências, Tecnologias). Caso deseje, haverá as seguintes opções de prosseguimento de estudos:
Aluno(a)s vocacionados para a docência poderão prestar seleção para licenciaturas específicas (p.ex. do BI em Ciências da Matéria para Licenciatura em Matemática, Física ou Química), com mais 1 a 2 anos de formação profissional, o que habilita o aluno(a) a lecionar nos níveis básicos de educação;
Aluno(a)s vocacionados para carreiras específicas poderão prestar seleção para cursos profissionais (p.ex. Arquitetura, Enfermagem, Direito, Medicina, Engenharia etc.), com mais 2 a 5 anos de formação, levando todos os créditos dos cursos do BI;
Aluno(a)s com excepcional talento e desempenho, se aprovados em processos seletivos específicos, poderão ingressar em programas de pós-graduação, como o mestrado profissionalizante ou o mestrado acadêmico, podendo prosseguir para o Doutorado, caso pretenda tornar-se professor ou pesquisador.
Naturalmente, todos esses pontos constituem propostas preliminares, sujeitas a críticas, discussões e revisões, especialmente do ponto de vista de política institucional. Na mesma medida, há muitas outras questões, inclusive técnicas e legais, ainda em aberto.
O Brasil vive um ‘apartheid’ educacional
Os últimos resultados das avaliações do ensino básico brasileiro (educação infantil, fundamental e ensino médio) divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) mostram, além do baixo rendimento do ensino fundamental e do ensino médio, o crescente abismo entre a educação pública a particular. Essa realidade traz graves consequências para a formação ética, política e cultural da sociedade brasileira. Hoje, das 55,9 milhões matrículas no ensino da educação básica, 86,5% são feitas pela rede pública; no ensino médio, 85,15% estudam na rede estadual de ensino.
Os resultados do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) revelam, juntamente com a queda do desempenho dos estudantes do ensino médio, a disparidade entre os alunos da escola pública e privada. Aqueles que estudaram somente em escola pública obtiveram média 34,94 na prova objetiva e 51,23 na redação, enquanto o grupo que declarou ter estudado somente em escola particular teve média de 50,57 na parte objetiva e de 59,77 na redação. Além disso, dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), aplicado em 2005, revelaram que estudantes da 8ª série do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio do país têm o pior resultado em português e matemática dos últimos dez anos.
O reflexo de uma educação pública que não decola está exposto aos olhos e na própria sociedade. Para o professor Roberto Leher, da Faculdade de Educação da UFRJ e membro do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) está em curso um “apartheid” educacional e científico-tecnológico que opõem países centrais e periféricos e, dentro de cada país, ricos e pobres. “Vistos de perto, é possível concluir que os indicadores educacionais escondem um verdadeiro genocídio intelectual em curso no país. Os resultados do teste aplicado na pesquisa do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf-2004) revelam que apenas 23% da população jovem e adulta brasileira é capaz de adotar e controlar uma estratégia na resolução de um problema que envolva a execução de uma série de operações. É ainda mais preocupante a revelação de que apenas nesse grupo encontram-se os sujeitos que demonstram certa familiaridade com representações gráficas como mapas, tabelas e gráficos”, completa Leher.
De acordo com dados da professor, metade dos jovens de 15-17 anos está cursando o ensino médio e, dentre os jovens de 18-24 anos, somente 11% estão matriculados na educação superior, 75% dos quais em instituições privadas, predominantemente de baixa qualidade. Outro problema da educação brasileira trata-se de instrumentalização, que atinge também, segundo Leher, escolas particulares. “O ensino privado em geral também vai mal, pois o drama é que a baixa escolaridade da juventude brasileira é operacional para o padrão de acumulação em curso. Não devemos nos esquecer que quase 90% dos novos empregos são de cerca de 2 salários mínimos. São empregos pouco sofisticados em termos de conhecimento científico”, aponta o docente.
Elitismo - O educador e filósofo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Gaudêncio Frigotto, destaca que há duas consequências para baixa qualidade da educação básica no Brasil: a falta de cidadania real e o a permanência do ideal elitista de uma minoria. “O resultado é político, cultural e ético. Ninguém senta para analisar quem produziu esses seres humanos tão monstruosamente frios na bárbarie do carro que o arrastou uma criança no Rio de Janeiro. Eles não são naturais, são historicamente produzidos”, diz o professor da UERJ.
Para Leher, a degradação da qualidade do ensino público vem desde o momento em que a pressão social por seu acesso impôs a sua ampliação, em especial no governo empresarial-militar. “Quando a expansão foi inevitável, os setores dominantes nada fizeram para garantir uma escola de qualidade, ao contrário, operaram no sentido de manter uma escola minimalista para o povo”, afirma o educador.
A autonomia organizativa na própria escola pode ser um dos fatores para melhorar a qualidade do ensino público. “Com escolas em ruínas, professores mal pagos e quase nula assistência estudantil não é possível reverter esse quadro. Junto com a mudança no padrão de financiamento, é preciso estimular as escolas a se auto-organizarem, efetivando com autonomia o seu projeto político- pedagógico em interação com os pais e com os estudantes, com os sindicatos e movimentos sociais”, afirma Leher.
Expansão sem qualidade
A falta de investimento na educação básica na década passada de maneira mais ampla é apontada como crucial para compreender a atual situação do ensino básico. Os Censos Escolares vêm demonstrando a expansão das vagas do ensino médio, mas sem a qualidade necessária. Em 1996, o número de matrículas feitas no Ensino Médio da Rede Estadual era de 4.137.324. No ano passado, foi de 9.575.538 matrículas. “Com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), a política que o ex-presidente Fernando Henrique promoveu foi de retração, de garantir apenas o que estava dentro da faixa etária da Constituição, que era dos 7 aos 14 anos. Não houve a preocupação com o conjunto da educação básica”, diz Juçara Maria Dutra Vieira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), que aponta o investimento mais amplo, como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), como um sinalizador importante no governo Lula. “Mas continua sendo uma política insuficiente porque o percentual do PIB está se mantendo em aplicação na educação desde o começo do governo de FHC, que girava em torno de 3,5%. Hoje está em 4,3% do PIB, mas o próprio CDES recomenda os 6% que a Unesco requer do produto interno bruto (PIB)”, explica Vieira.
O tratamento dado à educação nos anos 1990 é o que Roberto Leher denomina de mais um fracesso neoliberal. “O Banco Mundial, a Unesco, a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) e os governos neoliberais, escudados por seus intelectuais, diagnosticaram que, na América Latina, somente teria sentido o Estado investir na educação fundamental. Ao examinarem a situação da educação fundamental concluíram que não havia mais problema de acesso e, ainda, que os Estados já gastavam bastante com a educação”, indigna-se Leher.
A retomada de uma guinada educacional é vislumbrada, como sempre, no âmago da correlação de forças políticas. Segundo Frigotto, para mudar a situação vigente, as prioridades econômicas devem ser repensadas. “Pagando o superávit primário que pagamos não haverá dinheiro para estruturar as escolas. O que está faltando é um salto de qualidade que pressupõe mexer na política econômica”, ressalta o pedagogo.
Para Leher, os movimentos sociais e sindicais, junto com entidades acadêmicas e estudantis, lograram uma importante vitória no Plano Nacional de Educação, “talvez o único ponto exitoso nessa luta: a definição de 7% do PIB para a educação pública brasileira”, lembra o sociólogo. Mas conta que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vetou esse dispositivo e que o atual, apesar das promessas de que derrubaria o veto, o manteve, “tudo em nome do sacrossanto superávit primário que carrega o grosso do excedente econômico para as 7 mil famílias de rentistas”, conclui.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/um-genocidio-intelectual-nas-escolas
Os resultados do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) revelam, juntamente com a queda do desempenho dos estudantes do ensino médio, a disparidade entre os alunos da escola pública e privada. Aqueles que estudaram somente em escola pública obtiveram média 34,94 na prova objetiva e 51,23 na redação, enquanto o grupo que declarou ter estudado somente em escola particular teve média de 50,57 na parte objetiva e de 59,77 na redação. Além disso, dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), aplicado em 2005, revelaram que estudantes da 8ª série do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio do país têm o pior resultado em português e matemática dos últimos dez anos.
O reflexo de uma educação pública que não decola está exposto aos olhos e na própria sociedade. Para o professor Roberto Leher, da Faculdade de Educação da UFRJ e membro do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) está em curso um “apartheid” educacional e científico-tecnológico que opõem países centrais e periféricos e, dentro de cada país, ricos e pobres. “Vistos de perto, é possível concluir que os indicadores educacionais escondem um verdadeiro genocídio intelectual em curso no país. Os resultados do teste aplicado na pesquisa do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf-2004) revelam que apenas 23% da população jovem e adulta brasileira é capaz de adotar e controlar uma estratégia na resolução de um problema que envolva a execução de uma série de operações. É ainda mais preocupante a revelação de que apenas nesse grupo encontram-se os sujeitos que demonstram certa familiaridade com representações gráficas como mapas, tabelas e gráficos”, completa Leher.
De acordo com dados da professor, metade dos jovens de 15-17 anos está cursando o ensino médio e, dentre os jovens de 18-24 anos, somente 11% estão matriculados na educação superior, 75% dos quais em instituições privadas, predominantemente de baixa qualidade. Outro problema da educação brasileira trata-se de instrumentalização, que atinge também, segundo Leher, escolas particulares. “O ensino privado em geral também vai mal, pois o drama é que a baixa escolaridade da juventude brasileira é operacional para o padrão de acumulação em curso. Não devemos nos esquecer que quase 90% dos novos empregos são de cerca de 2 salários mínimos. São empregos pouco sofisticados em termos de conhecimento científico”, aponta o docente.
Elitismo - O educador e filósofo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Gaudêncio Frigotto, destaca que há duas consequências para baixa qualidade da educação básica no Brasil: a falta de cidadania real e o a permanência do ideal elitista de uma minoria. “O resultado é político, cultural e ético. Ninguém senta para analisar quem produziu esses seres humanos tão monstruosamente frios na bárbarie do carro que o arrastou uma criança no Rio de Janeiro. Eles não são naturais, são historicamente produzidos”, diz o professor da UERJ.
Para Leher, a degradação da qualidade do ensino público vem desde o momento em que a pressão social por seu acesso impôs a sua ampliação, em especial no governo empresarial-militar. “Quando a expansão foi inevitável, os setores dominantes nada fizeram para garantir uma escola de qualidade, ao contrário, operaram no sentido de manter uma escola minimalista para o povo”, afirma o educador.
A autonomia organizativa na própria escola pode ser um dos fatores para melhorar a qualidade do ensino público. “Com escolas em ruínas, professores mal pagos e quase nula assistência estudantil não é possível reverter esse quadro. Junto com a mudança no padrão de financiamento, é preciso estimular as escolas a se auto-organizarem, efetivando com autonomia o seu projeto político- pedagógico em interação com os pais e com os estudantes, com os sindicatos e movimentos sociais”, afirma Leher.
Expansão sem qualidade
A falta de investimento na educação básica na década passada de maneira mais ampla é apontada como crucial para compreender a atual situação do ensino básico. Os Censos Escolares vêm demonstrando a expansão das vagas do ensino médio, mas sem a qualidade necessária. Em 1996, o número de matrículas feitas no Ensino Médio da Rede Estadual era de 4.137.324. No ano passado, foi de 9.575.538 matrículas. “Com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), a política que o ex-presidente Fernando Henrique promoveu foi de retração, de garantir apenas o que estava dentro da faixa etária da Constituição, que era dos 7 aos 14 anos. Não houve a preocupação com o conjunto da educação básica”, diz Juçara Maria Dutra Vieira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), que aponta o investimento mais amplo, como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), como um sinalizador importante no governo Lula. “Mas continua sendo uma política insuficiente porque o percentual do PIB está se mantendo em aplicação na educação desde o começo do governo de FHC, que girava em torno de 3,5%. Hoje está em 4,3% do PIB, mas o próprio CDES recomenda os 6% que a Unesco requer do produto interno bruto (PIB)”, explica Vieira.
O tratamento dado à educação nos anos 1990 é o que Roberto Leher denomina de mais um fracesso neoliberal. “O Banco Mundial, a Unesco, a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) e os governos neoliberais, escudados por seus intelectuais, diagnosticaram que, na América Latina, somente teria sentido o Estado investir na educação fundamental. Ao examinarem a situação da educação fundamental concluíram que não havia mais problema de acesso e, ainda, que os Estados já gastavam bastante com a educação”, indigna-se Leher.
A retomada de uma guinada educacional é vislumbrada, como sempre, no âmago da correlação de forças políticas. Segundo Frigotto, para mudar a situação vigente, as prioridades econômicas devem ser repensadas. “Pagando o superávit primário que pagamos não haverá dinheiro para estruturar as escolas. O que está faltando é um salto de qualidade que pressupõe mexer na política econômica”, ressalta o pedagogo.
Para Leher, os movimentos sociais e sindicais, junto com entidades acadêmicas e estudantis, lograram uma importante vitória no Plano Nacional de Educação, “talvez o único ponto exitoso nessa luta: a definição de 7% do PIB para a educação pública brasileira”, lembra o sociólogo. Mas conta que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vetou esse dispositivo e que o atual, apesar das promessas de que derrubaria o veto, o manteve, “tudo em nome do sacrossanto superávit primário que carrega o grosso do excedente econômico para as 7 mil famílias de rentistas”, conclui.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/um-genocidio-intelectual-nas-escolas
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